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Mensagens

A mostrar mensagens de 2024

Ninguém morreu por não comer Bolo Rei

É bem capaz de ter sido o primeiro Natal - pelo menos de que eu tenha memória - em que não se comeu Bolo Rei. Também deve ter sido dos poucos em que não sobrou Bolo Rei. Porque não se comprou Bolo Rei. Comprou-se só um Bolo Rainha; cá em casa é o que agrada à maioria e assim sobrou menos. Claro que sobrou tudo o resto. Sobra sempre. Sobrou bacalhau, sobraram coscorões e o presunto vai acabar por secar certamente. Sobrou tudo, para não faltar nada. O que sobrou foi partilhado, dividido, só falta agora tentar que não seja desperdiçado. Mas vai ser. Alguma coisa vai acabar por ir parar ao lixo ou às galinhas. Que seja algo que as galinhas comam, pelo menos não será desperdício total. Sejam felizes, sonhem e tentem desperdiçar um bocadinho menos na passagem de ano.

Ninguém morre se não comer uma fatia de bolo especial de corrida este ano

Bolo Rei ou Bolo Rainha? Um de cada, há quem não goste de frutas cristalizadas. Põe mais 2 ou 3 postas de bacalhau, vale mais a mais que a menos. Sobrar que faltar. A lareira está acesa há tantas horas que não se pode estar aqui com o calor... Vai sobrar tronco de Natal de certeza. E coscorões, 1Kg se calhar foi demais, mas 1/2Kg também era pouco. O presunto vai secar todo, quase ninguém comeu. Nós, aqui, preocupados com problemas de 1o Mundo, nem nos lembramos que em pleno século XXI ainda há quem passe fome e frio. No Natal parece tudo mais evidente, de repente toda a gente tem pena dos pobrezinhos, dos sem abrigo, das criancinhas que passam fome, dos velhinhos que passam frio. Mas os pobrezinhos, os sem abrigo, as criancinhas, os velhinhos e todas as outras pessoas que passam por privações e dificuldades também existem no resto do ano... E nós, aqui, preocupados em comprar dois bolos, dos quais metade vai sobrar, porque alguém pode não gostar de frutas cristalizadas.  Nós, a abu...

Monte de terra com ervas

Descreve o que vês da janela do teu quarto. Era este o mote para uma composição.  A professora de Língua Portuguesa teve uma boa ideia, pôr os alunos a contar uns aos outros o que todos os dias contemplavam através a sua janela. Uns certamente escreveram que viam a rua, os carros e as bicicletas a passar. Outros, um jardim, com árvores e passarinhos. Outros ainda um parque infantil onde viam os outros meninos brincar. Uns viam a casa do amigo ou o quintal do vizinho. Viam carros, viam lojas, viam pessoas. A ideia tinha tudo para dar bons frutos não fosse uma suposição básica: a de que todos os alunos de facto viam coisas minimamente interessantes através das janelas dos seus quartos. Coisas das quais se poderia dissertar mais do que meia dúzia de palavras... "Um monte de terra com ervas". Era isto que eu tinha para escrever naquela composição, porque era isto que eu via: um monte de terra com ervas. Não era um jardim, era um monte de terra com ervas. Não eram pessoas, era um ...

O(s) rosto(s) da urgência de um hospital

Rostos perdidos, de quem não sabe o que fazer. Rostos desorientados, de quem não sabe para onde ir. Rostos felizes, de quem vem por boas notícias. Rostos tristes, de quem não. Rostos sôfregos, de quem já teve melhores dias. Rostos pálidos, de quem parece estar mais para lá. Rostos apáticos, de quem veio sem saber que está cá. Rostos silenciosos, de quem grita por dentro. Rostos cansados, de quem todos os dias ajuda os perdidos a encontrar o caminho, orienta os desorientados e traz esperança a quem pensava já não haver solução. Rostos indiferentes, de quem não pode ver com o coração. Rostos preocupados, de quem não sabe o que aconteceu. Rostos incrédulos, de quem ainda não sabe bem como. Rostos impacientes, de quem não é capaz de aguentar mais a calma dos outros. Rostos aliviados, tanto de quem entra como de quem sai. Rostos desesperados, de quem não sabe como vai ser agora. A urgência é isto. É perda e desorientação. Pode ser felicidade, mas muitas vezes é tristeza. É sofreguidão, apat...

Trump, estás Kamala à porta. Assim espero.

Dizem o que as pessoas querem ouvir e isso basta. Dizem que vão fazer e acontecer. Não importa como; ninguém se questiona. Dizem as coisas mais disparatadas do mundo e continuam a ser ouvidos. Idolatrados. São extremistas, machistas, racistas e xenófobos. Mas isso é que está certo. O Trump e todos aqueles que, cegos pelo poder, nem se ouvem a eles próprios, dizem o que querem e têm quem os ouça. E isso é muito perigoso. Na sua cabeça, ele já lá está. Sentado no trono invisível a brincar às marionetas. Na sua cabeça, ele nunca de lá saiu porque não reconheceu o resultado das últimas eleições. Na sua cabeça, ele é o centro do Universo, o salvador da pátria, a luz ao fundo do túnel. Só que, neste caso, essa luz é mesmo um comboio.  Se ele ganhar as eleições, perdem os EUA e perde o resto do Mundo. Trump, espero que percas. Sai da frente. Kamala está à porta.

Vem andando que eu cá te espero

Um dia vais ser tu aquele velho surdo, a quem será preciso repetir 3X a mesma coisa. Um dia serás tu aquela velha meio descompreendida, tanto que pelo meio da conversa consegues dizer coisas a outras pessoas sem que ela se aperceba. Um dia vais ser o velho coxo, que demora a atravessar a passadeira, logo hoje que estás cheio de pressa para ir à bola. Um dia vais ser a velha teimosa, que não muda de cuecas porque aquelas ainda só levam 4 dias em cima e ainda estão boas. Vais ser tudo aquilo que juraste a ti mesmo nunca vir a ser. E fazer tudo aquilo que juraste nunca vir a fazer. Vais, se lá chegares. Seja lá o "lá" o que for. É tempo? Então porque se fala dele como se de um local se tratasse? Deve ser porque vamos andando e eles "lá" nos esperam. Sim, deve ser por isso. Sejam felizes, sonhem e... Tenham paciência! Basta isso.

FNC|FICL|FSM 2024 @Golegã

 

Eu ao menos cheguei

E lá estou eu no trânsito outra vez... Se me dissessem, há uns anos, que alguma vez ia andar no pára-arranca no IC19 ou na 2a Circular rir-me-ia na cara dessa pessoa. Eu? Em Lisboa? No IC19? Na 2a Circular? Eu nem sei onde isso fica, senhores! Nunca me vão apanhar viva nisso.  Pois, o "nunca digas nunca" é mais verdade do que se possa imaginar. Bem, cá vou eu neste carreiro de formigas que costumava ver na TV. Ah valente! Olho para o lado e 90% dos carros só levam uma pessoa. Raramente se vê um carro com mais alguém para além do infeliz condutor. O GPS diz-me que há um acidente ali à frente e que vou ter que aguentar 7 minutos que até me lixo, ali, onde a estrada fica vermelha. As motas ganham nestas situações. Conseguem esgueirar-se e lá vão avançando qualquer coisa. Há pessoas de quem a vida já fugiu. Vão ali, meio mortas, em piloto automático até que algum estímulo as faça pestanejar. Outras, porém, parecem eléctricas. São incapazes de se deixar levar, de seguir o carreiro...

Quando for grande quero ter a acefalia de dizer que o meu sonho é ser influencer

Antes, no passado, no "meu tempo", queríamos ser médicos para salvar vidas, advogados de causas perdidas para trazer justiça a este mundo cruel, engenheiros de qualquer coisa para arranjarmos soluções para os problemas com que nos deparávamos. Cabeleireiras para pôr as pessoas bonitas, pedreiros para fazermos a nossa própria casa, na loucura, jogadores da bola - e era este último o desejo mais acéfalo possível naquela altura. E ainda nem havia nenhum Ronaldo, imagine-se. Agora, num mundo em que o que interessa é aparecer, quere-se ser - imaginem - influencer . Mas que merda é esta? Que raio de trabalho é esse mesmo?  Sim, até compreendo, deve dar um trabalho desgraçado pensar em conteúdos, fazer aquela maquilhagem que parece que não está lá para parecer que se acabou de acordar em bom, filmar a mesma coisa meia dúzia de vezes porque nunca nada está bem, tirar a mesma foto 20 vezes porque há sempre qualquer coisa que está mal. Ter, completamente por acaso, o telemóvel a filmar...

A foto do obituário

Tenho horror a redes sociais que para nada mais servem do que para lavar roupa suja, mostrar o que não se tem e ser-se o que não se é.  Talvez por isso não seja daquelas pessoas que tem 300 mil fotos suas no telemóvel (sim, pouca gente hoje em dia "tem" fotos noutro sítio). Às vezes dou por mim a pensar que há um vazio de uns 15 anos na minha vida, porque não tenho fotos "nenhumas" dos últimos anos, "acabaram-se" os típicos álbuns e, não tendo redes sociais, pareço não ter motivo para as tirar. Assim, há um gap na minha existência, como se não tivesse existido de todo, um corte na linha da vida, aquela que é desenhada por e recordada com fotos. Pior que esse vazio é o que dele pode vir. Admiro-me de ver nos obituários pessoas de 70 anos com fotos de 50, pessoas de 80 com fotos de 60 e pior. Admiro-me mas, olhando para mim mesma, não é assim uma coisa tão estranha de acontecer. As pessoas envelhecem e já não gostam de se ver, não querem fotos e ninguém lha...

O seu filho sofre de asma? Tem que ler isto.

O seu filho sofre de asma? Então não o leve ao médico. Nada do que o médico possa dizer é mais certo que o que vai ler aqui, num qualquer post completamente aleatório, no Facebook . Foi escrito por uma "médica", super "especialista" em filhos com asma. Leia, não se vai arrepender. Ah! E depois não se esqueça de fazer a mezinha que a doutora manda, porque ela até conhece bem o seu filho com asma. Faça isso e ignore o que o médico da criança diz. Aliás, não volte lá mais. Dar dinheiro a malucos, Deus me livre! Esta doutora especialista em asma no Facebook ao menos é à borla. Se o seu filho sofre de asma tem mesmo que ler isto e se não sofre, também. Nunca se sabe se não está aqui a cura para mais alguma coisa porque esta doutora é especialista e toda a gente sabe que isso quer dizer que sabe muito, neste caso, de filhos com asma. Mas deve saber de filhos em geral e talvez esteja aqui a cura para a estupidez dos pais também, nunca se sabe, especialista é especialista...

38 anos que sabem demasiado a velho

É como aquela bolacha que ficou num pacote meio aberto, amoleceu e sabe a... velho. Não sabe bem mas também não sabe mal, apenas já não sabe a novo. Sejam lá o novo e o velho o que forem. São o bom e mau? Sei lá.  São tempos estranhos estes, em que a tua marca de café te felicita por mais um aniversário, outras há que até oferecem descontos, mas a prima se esquece ti porque tem a cabeça demasiado ocupada a ser ela (ou a não ser nós) e não deve ter um sítio onde apontar a data. Coitada. Coitada dessa prima e das outras primas todas, sim coitadas. Eu dispenso esses teatrinhos da vida, que não passam do intervalo porque alguém se esquece de continuar a representar. Não preciso de lágrimas de crocodilo, de floreados, nem de merdas. Por isso, a essa prima e às outras primas todas que por aí se passeiam: escusam de vir tentar oferecer bilhetes para a próxima peça. Façam a palhaçada sozinhas, comigo não contam mais. São quase 40 anos, tenham dó! Não gosto de pensar em 40-2, aos 40 a bolac...

Se "O" 25 de Abril fosse agora... não era.

Onde é que estavas no 25 de Abril? Pergunta da praxe. A resposta mais ouvida é "a saltar do direito para o esquerdo". Mas muitos, nem isso. A verdade é que alguns estiveram lá, fizeram a revolução, outros não estiveram mas viveram esses tempos e, a partir daquele dia, todos podemos colher os seus frutos. Incluindo nós, que ainda andávamos a saltar do direito para o esquerdo e até todos os outros que nem isso faziam ainda.   Foi uma conquista e pêras. Esta coisa da liberdade, que damos como garantida e à qual não damos importância nenhuma, é o que me permite escrever este texto sem ir presa. É a mesma coisa que permite discussões políticas de café, na maioria das vezes com um cheirinho a insensatez. É ainda o que nos deixa andar despreocupados, sem olhar por cima do ombro a todo o instante. Mas também é algo que nos dá muita responsabilidade. Liberdade não é libertinagem. A liberdade dá trabalho e exige respeito, mesmo que quase ninguém se dê conta disso. Hoje, teria sido muit...

Identificar ricos (ou como dar a volta ao texto em 17 parágrafos)

Consigo identificar um rico à distância. Que é como quem diz, sem ter que lhe ver o extrato bancário. É um dom como outro qualquer. E como a minha cabeça precisa de fazer associações, crio uma espécie de estereótipos. E quem nunca usou um estereótipo que atire a primeira pedra. Os ricos têm todos a mesma cara, são parecidos uns com os outros, parece que nasceram todos da mesma mãe. Olha-se para um rico e sabe-se que é rico. Como também se olha para um pé rapado com a mania das grandezas e se sabe que é só um pé rapado com a mania das grandezas, não é um rico. Os ricos têm todos o mesmo tipo de cabelo, de corte e o mesmo tipo de penteado. Os ricos devem ter uma tabela de pesos aceitaveis e só podem engordar a partir de certa idade. Por isso, em geral, são magros. Usam as mesmas marcas de roupa. Viajam para os mesmo sítios, nas mesmaa alturas do ano. As melhores. Têm o mesmo sotaque, a mesma musiquinha na voz, devem ter nascido todos em Lisboa. Sempre ouvi dizer que orelhas grandes são o...

Não chegas lá a baixo primeiro que eu (ou a arte do "desmaricanço")

E não chegou. É difícil competir na modalidade de descer escadas com alguém que, mesmo sem querer, ousa tirar os pés do chão.  "Oh mãaaeee!... A Cristina caiu!" Mas a Cristina caiu num tempo em que se podia cair. Em que as pessoas caiam, levantavam-se, sacudiam o pó (no meu caso, lavavam a cara) e seguiam a sua vida desde que não estivessem para morrer. Caí numa altura em que um acidente, mesmo que fora de casa, não era tragédia nenhuma. Em que não vinham os paizinhos a correr. Em que ninguém panicava porque não havia polícias da moral e porque, na verdade, não havia necessidade. Caí mas ganhei a competição, por isso a queda nem contou. Decidi competir com a A.L. para ver quem chegava primeiro à aula Inglês que era numa sala do R/C da S.E.. Ganhei, claro. A escada era íngreme, mesmo a pique, do 1o andar para o rés do chão, com uma porta para a rua mesmo ao fundo. Tropecei certamente nos meus próprios pés ou estes resvalaram num dos estreitos degraus. Não importa. Quando dei p...

Real cancro

 Já aqui escrevi sobre a realeza. A realeza que morre sempre serenamente, que não se despenteia, não tem uma nódoa na camisa, não se exalta nem... Vive. Parece que agora a realeza, mesmo com tantos cuidados, também adoece. Primeiro, a princesa tem uma doença manhosa "na zona abdominal, mas que não é cancro" que a faz ser operada numa urgência estranha para algo que "estava planeado" e ficar horrores de tempo no hospital como se de uma reles plebeia se tratasse. Ficou longe da familia, dos compromissos e há até quem diga que, um dia, quis comer a refeição hospitalar para ter a experiência completa (mas acho que não deixaram). Agora, o Sr. Rei apanhou-me um cancro! Coitado! Logo agora que é rei há um ano, depois de penar uns 30 à espera que a mãezinha, rija que nem cornos, finalmente se finasse. Logo agora, bolas! E sabemos que não é na próstata (que isso fique bem claro), restam-nos então as outras centenas de opções possíveis (isto era suposto ser relevante porque?....

Coração ao pé da boca

Há pessoas de poucas palavras e há desbocados. Há quem diga muito em poucas palavras e quem não diga nada em meia hora de discurso. Pela boca morre o peixe. Por isso, às vezes, mais vale estar-se calado. Há quem a tenha demasiado próxima do coração e fale demasiado sobre o que não deve com quem não deve. Mas são coisas diferentes. Falar do que se não deve pode ser com alguém completamente neutro no assunto e o único mal que estamos a fazer é partilhar algo que não devíamos. Mas, falarmos do que não devemos com alguém não neutro ou com a capacidade de usar essa informaçõe para o mal, é muito diferente. Pois as consequências são muito mais gravosas no segundo caso. Temos necessidade de falar, de partilhar determinada informação com alguém, de desabafar. É justo. Não é fácil ser-se o único guardião de determinadas informações. Escolher alguém neutro para nos ouvir é o melhor de dois mundos: vamos ficar mais leves e isso não vai ter consequências para ninguém. Por vezes a necessidade é dif...

Sonho sempre que estou lá

O escritor José Luís Peixoto disse em entrevista que, embora já não esteja no sítio em que cresceu, sonha sempre que está lá. Ouvi estas palavras e revi-me nelas. Podiam ter sido minhas. Eu também sonho sempre que estou lá. E, muitas vezes, que as pessoas também lá estão. As pessoas e os sítios criam memórias. As memórias nunca são más, nem mesmo as que representam situações menos positivas. Porque na memória as coisas boas são como o azeite na água. E as memórias têm um lugar muito especial no nosso coração e na nossa cabeça. São daquelas coisas que nos fazem esboçar um sorriso tanto quanto deixar cair uma lágrima.  Os sítios, parecendo que não, são mais facilmente preserváveis. Não se chateiam, não deixam de falar a ninguém, não adoecem e, podendo precisar de manutenção, mesmo sem ela, não morrem. Ficam ali. À espera que venha mais alguém dar vida àquele lugar. Pelo menos não morrem como as pessoas. As pessoas são mais difíceis de manter. Por vezes chatiamo-nos, dizemos coisas pa...