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Se "O" 25 de Abril fosse agora... não era.

Onde é que estavas no 25 de Abril? Pergunta da praxe. A resposta mais ouvida é "a saltar do direito para o esquerdo". Mas muitos, nem isso. A verdade é que alguns estiveram lá, fizeram a revolução, outros não estiveram mas viveram esses tempos e, a partir daquele dia, todos podemos colher os seus frutos. Incluindo nós, que ainda andávamos a saltar do direito para o esquerdo e até todos os outros que nem isso faziam ainda.   Foi uma conquista e pêras. Esta coisa da liberdade, que damos como garantida e à qual não damos importância nenhuma, é o que me permite escrever este texto sem ir presa. É a mesma coisa que permite discussões políticas de café, na maioria das vezes com um cheirinho a insensatez. É ainda o que nos deixa andar despreocupados, sem olhar por cima do ombro a todo o instante. Mas também é algo que nos dá muita responsabilidade. Liberdade não é libertinagem. A liberdade dá trabalho e exige respeito, mesmo que quase ninguém se dê conta disso. Hoje, teria sido muit
Mensagens recentes

Identificar ricos (ou como dar a volta ao texto em 17 parágrafos)

Consigo identificar um rico à distância. Que é como quem diz, sem ter que lhe ver o extrato bancário. É um dom como outro qualquer. E como a minha cabeça precisa de fazer associações, crio uma espécie de estereótipos. E quem nunca usou um estereótipo que atire a primeira pedra. Os ricos têm todos a mesma cara, são parecidos uns com os outros, parece que nasceram todos da mesma mãe. Olha-se para um rico e sabe-se que é rico. Como também se olha para um pé rapado com a mania das grandezas e se sabe que é só um pé rapado com a mania das grandezas, não é um rico. Os ricos têm todos o mesmo tipo de cabelo, de corte e o mesmo tipo de penteado. Os ricos devem ter uma tabela de pesos aceitaveis e só podem engordar a partir de certa idade. Por isso, em geral, são magros. Usam as mesmas marcas de roupa. Viajam para os mesmo sítios, nas mesmaa alturas do ano. As melhores. Têm o mesmo sotaque, a mesma musiquinha na voz, devem ter nascido todos em Lisboa. Sempre ouvi dizer que orelhas grandes são o

Perdemos

Não falo de partidos ou posições políticas, falo dos portugueses. Perdemos. Com "sorte", daqui a 6 meses o carrossel dá mais uma voltinha. Obrigada, Marcelo.

Não chegas lá a baixo primeiro que eu (ou a arte do "desmaricanço")

E não chegou. É difícil competir na modalidade de descer escadas com alguém que, mesmo sem querer, ousa tirar os pés do chão.  "Oh mãaaeee!... A Cristina caiu!" Mas a Cristina caiu num tempo em que se podia cair. Em que as pessoas caiam, levantavam-se, sacudiam o pó (no meu caso, lavavam a cara) e seguiam a sua vida desde que não estivessem para morrer. Caí numa altura em que um acidente, mesmo que fora de casa, não era tragédia nenhuma. Em que não vinham os paizinhos a correr. Em que ninguém panicava porque não havia polícias da moral e porque, na verdade, não havia necessidade. Caí mas ganhei a competição, por isso a queda nem contou. Decidi competir com a A.L. para ver quem chegava primeiro à aula Inglês que era numa sala do R/C da S.E.. Ganhei, claro. A escada era íngreme, mesmo a pique, do 1o andar para o rés do chão, com uma porta para a rua mesmo ao fundo. Tropecei certamente nos meus próprios pés ou estes resvalaram num dos estreitos degraus. Não importa. Quando dei p

Real cancro

 Já aqui escrevi sobre a realeza. A realeza que morre sempre serenamente, que não se despenteia, não tem uma nódoa na camisa, não se exalta nem... Vive. Parece que agora a realeza, mesmo com tantos cuidados, também adoece. Primeiro, a princesa tem uma doença manhosa "na zona abdominal, mas que não é cancro" que a faz ser operada numa urgência estranha para algo que "estava planeado" e ficar horrores de tempo no hospital como se de uma reles plebeia se tratasse. Ficou longe da familia, dos compromissos e há até quem diga que, um dia, quis comer a refeição hospitalar para ter a experiência completa (mas acho que não deixaram). Agora, o Sr. Rei apanhou-me um cancro! Coitado! Logo agora que é rei há um ano, depois de penar uns 30 à espera que a mãezinha, rija que nem cornos, finalmente se finasse. Logo agora, bolas! E sabemos que não é na próstata (que isso fique bem claro), restam-nos então as outras centenas de opções possíveis (isto era suposto ser relevante porque?.

Coração ao pé da boca

Há pessoas de poucas palavras e há desbocados. Há quem diga muito em poucas palavras e quem não diga nada em meia hora de discurso. Pela boca morre o peixe. Por isso, às vezes, mais vale estar-se calado. Há quem a tenha demasiado próxima do coração e fale demasiado sobre o que não deve com quem não deve. Mas são coisas diferentes. Falar do que se não deve pode ser com alguém completamente neutro no assunto e o único mal que estamos a fazer é partilhar algo que não devíamos. Mas, falarmos do que não devemos com alguém não neutro ou com a capacidade de usar essa informaçõe para o mal, é muito diferente. Pois as consequências são muito mais gravosas no segundo caso. Temos necessidade de falar, de partilhar determinada informação com alguém, de desabafar. É justo. Não é fácil ser-se o único guardião de determinadas informações. Escolher alguém neutro para nos ouvir é o melhor de dois mundos: vamos ficar mais leves e isso não vai ter consequências para ninguém. Por vezes a necessidade é dif

Sonho sempre que estou lá

O escritor José Luís Peixoto disse em entrevista que, embora já não esteja no sítio em que cresceu, sonha sempre que está lá. Ouvi estas palavras e revi-me nelas. Podiam ter sido minhas. Eu também sonho sempre que estou lá. E, muitas vezes, que as pessoas também lá estão. As pessoas e os sítios criam memórias. As memórias nunca são más, nem mesmo as que representam situações menos positivas. Porque na memória as coisas boas são como o azeite na água. E as memórias têm um lugar muito especial no nosso coração e na nossa cabeça. São daquelas coisas que nos fazem esboçar um sorriso tanto quanto deixar cair uma lágrima.  Os sítios, parecendo que não, são mais facilmente preserváveis. Não se chateiam, não deixam de falar a ninguém, não adoecem e, podendo precisar de manutenção, mesmo sem ela, não morrem. Ficam ali. À espera que venha mais alguém dar vida àquele lugar. Pelo menos não morrem como as pessoas. As pessoas são mais difíceis de manter. Por vezes chatiamo-nos, dizemos coisas parvas