Consigo identificar um rico à distância. Que é como quem diz, sem ter que lhe ver o extrato bancário. É um dom como outro qualquer. E como a minha cabeça precisa de fazer associações, crio uma espécie de estereótipos. E quem nunca usou um estereótipo que atire a primeira pedra.
Os ricos têm todos a mesma cara, são parecidos uns com os outros, parece que nasceram todos da mesma mãe.
Olha-se para um rico e sabe-se que é rico. Como também se olha para um pé rapado com a mania das grandezas e se sabe que é só um pé rapado com a mania das grandezas, não é um rico.
Os ricos têm todos o mesmo tipo de cabelo, de corte e o mesmo tipo de penteado.
Os ricos devem ter uma tabela de pesos aceitaveis e só podem engordar a partir de certa idade. Por isso, em geral, são magros.
Usam as mesmas marcas de roupa.
Viajam para os mesmo sítios, nas mesmaa alturas do ano. As melhores.
Têm o mesmo sotaque, a mesma musiquinha na voz, devem ter nascido todos em Lisboa.
Sempre ouvi dizer que orelhas grandes são orelhas de rico; às vezes bate certo. Mas o tamanho auricular não entra na minha lista de estereótipos de pessoas ricas.
Os ricos precisam de descansar sempre mais que os outros, talvez a riqueza lhes sugue a energia.
Mas isto de ser rico tem que se lhe diga. Ser rico é alguém com meio milhão no banco? Com mais? Com menos mas mais do que eu?
Ser-se rico é relativo. É-se rico para uns, não se é para outros. E aqui já precisaria do extrato bancário para catalogar cada ser que encaixa nos estereótipos cima, uns mais consensuais que outros, é certo, mas isto cada um com os seus e quem nunca fez este tipo de associações atire agora a segunda pedra.
É preciso atingir um certo estatuto para se ser identificado como rico pelos pares. Um novo rico não cabe nesta forma às primeiras.
Um vencedor do Euromilhões que não fosse já abonado de certa forma, não é bem aceite pelo clã. É preciso vir de uma família de ricos para entrar no grupo sem convite. Pode nunca ter feito nada na vida, pode ter herdado tudo e adorar torrar dinheiro finito, mas é da família, chega.
Identificamos e usamos estereótipos em que, achamos, não encaixamos. Servem basicamente para catalogar os outros e os arrumarmos nas prateleiras da nossa cabeça.
Posto isto, não me considero rica. Não tenho orelhas grandes (mas esta não conta), não tenho aquele cabelo, aquela musiquinha lisboeta na voz nem vou três vezes por ano ao estrangeiro para descansar. Mas certamente estas não serão as características que identificam os ricos para toda a gente. Não sou rica em dinheiro mas sou rica noutras coisas e essas não têm preço.
Correndo o risco de descredibilizar tudo aquilo que aqui escrevi, porque a música em causa não é consensual no seu mundo (já que foi apenas a música de uma série de televisão que nem é originalmente nossa), há uma letra que muita gente conhece que descreve isto muito bem:
Sejam felizes, sonhem e... deem a volta a tudo o que vos der na real gana!
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