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Sonho sempre que estou lá

O escritor José Luís Peixoto disse em entrevista que, embora já não esteja no sítio em que cresceu, sonha sempre que está lá.

Ouvi estas palavras e revi-me nelas. Podiam ter sido minhas.

Eu também sonho sempre que estou lá. E, muitas vezes, que as pessoas também lá estão.

As pessoas e os sítios criam memórias.

As memórias nunca são más, nem mesmo as que representam situações menos positivas. Porque na memória as coisas boas são como o azeite na água.

E as memórias têm um lugar muito especial no nosso coração e na nossa cabeça. São daquelas coisas que nos fazem esboçar um sorriso tanto quanto deixar cair uma lágrima. 

Os sítios, parecendo que não, são mais facilmente preserváveis. Não se chateiam, não deixam de falar a ninguém, não adoecem e, podendo precisar de manutenção, mesmo sem ela, não morrem. Ficam ali. À espera que venha mais alguém dar vida àquele lugar. Pelo menos não morrem como as pessoas.

As pessoas são mais difíceis de manter. Por vezes chatiamo-nos, dizemos coisas parvas ou não dizemos nada. As pessoas têm a capacidade de ir mas, por vezes, esquecem-se que também podem voltar. E as pessoas têm uma coisa muito aborrecida, algumas adoecem e todas morrem. Nenhuma fica ali à espera de ser colocada noutro sítio que lhe dê vida.

Que merda.

Mas o que não morre nunca é a memória. A recordação que temos das pessoas e dos sítios. E um sítio não é o mesmo sem as mesmas pessoas. As pessoas são a energia que o sítio precisa para ter o que mais se aproxima de vida, na verdadeira essência da palavra.

As paredes não respiram, mas vivem. Tal como os móveis, as loiças. A luzes, as sombras e os cheiros. Tal como as cores.

Sem as pessoas, as paredes, móveis, loiças, luzes, sombras, cheiros e cores estão lá, mas não são a mesma coisa.

É por isso que sonho sempre que estou lá e que as outras pessoas estão lá também. Estão as vivas e estão as que já morreram, como se tal nunca tivesse acontecido. Nos sonhos pode-se tudo e tudo pode voltar a ser como era, mesmo já não o sendo na realidade.

As paredes ganham vida de novo e os móveis, loiças, luzes, sombras, cheiros e cores também.

Volta tudo a ser como antes.

É por isso que sonho. Para que tudo volte a ser como antes, nem que seja por breves instantes.


Sejam felizes e... Sonhem!

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