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Mensagens

A mostrar mensagens de 2025

Nem tudo o que enche o estômago enche o coração

Sempre gostei de massa. Qualquer que seja, não importa o tamanho ou o formato. Não sou esquisita quanto à aparência da dita cuja, gosto de massa e pronto. Há quem prefira arroz, mas eu gosto mais de massa. É por isso que o Mundo não tomba, como se costuma dizer. Se agora viessem com aquelas teorias (como tantas vezes quanto a tantas outras coisas) de que o arroz afinal faz mal; se me dissessem que a partir de agora só podia comer massa... Era para o lado que dormia melhor. Venha ela. Mas isto não é de agora. Foi sempre assim. Muitos serões em casa da minha Avó S. foram acompanhados de esparguete para a ceia. Não porque fosse regra da casa, mas porque eu tinha fome e que melhor do que ir comer esparguete?? Já tinha idade para mexer no fogão (hoje em dia demora-se mais a poder mexer no lume) e lá ia eu para a cozinha pegar num tacho muito reles (a bem dizer, numa caçarola) que desconfio que a minha Avó comprou na Galinha Gorda ou coisa que o valha. "Lá vai ela comer massa" O ta...

Agarrem-me que eu vou-me a ele! (ou o Jogo da Mala)

Não sei se o senhor roubou ou não roubou alguma coisa. Se roubou, que pague por isso. Se não roubou, pode voltar à sua vida e desculpe lá qualquer coisinha. Mas há demasiadas coincidências, há um aparente desconhecimento do que a mulher faz ou não faz ou vende ou não vende, o que é estranho quando o email da conta da plataforma de vendas em segunda mão seria o do senhor e a foto é de algures perto onde vive. Desde que ela me ponha o jantar na mesa, quero lá saber que ande a vender merdas na Internet. Desde que não me chateie a cabeça está tudo bem. Também não sabe bem se teria lá conta ou não e se foi apagada. A mulher é que sabe e ele coitado ainda não conseguiu falar com ela. É muito difícil comunicar do Continente para as ilhas. Desgraçada da senhora, não tarda tem que ir a uma Comissão de Inquérito. Mas adiante. Parece que os deputados do partido do senhor podem estar ainda mais revoltados do que os desgraçados que ficaram sem as coisas. Tão revoltados, mas tão revoltados, que nem ...

Temos tudo na ponta dos dedos

Quando não haviam serviços de streaming e a internet mal tinha atravessado o Atlântico, nada mais havia senão ver o que dava na televisão, se apanhássemos a tempo, ou ver repetidamente as mesmas cassetes de vídeo. A minha cassete preferida era a da Cinderela ou, visto que era dobrada em Português do Brasil, a Gata Borralheira. Não sonhava com príncipes nem castelos, mas sim com a varinha mágica da fada madrinha que parecia deitar um pó cintilante, em fio. Quantas vezes agitei um pau no ar, a fazer de varinha... Quase posso jurar que os meus olhos viram dele sair o tal pó cintilante. Não, não eram purpurinas. Purpurinas são artefactos para fingir magia. Mas aquilo, ali, aquilo era magia a sério. Cheguei a pensar em formas de conseguir fazer isso acontecer. De conseguir fazer uma varinha mágica com aquele pau. Ou com um tubo em PVC, daqueles brancos que se usavam nas ligações eléctricas exteriores. Era só enchê-lo com purpurinas a imitar magia. Mas nunca fiz nada. Fiz só na minha cabeça...

Já vi nascer o Sol no trabalho

Como se a empresa em que se trabalha fosse um planeta. Até era. Isto de ver nascer o Sol na empresa é muitas vezes motivo de orgulho de muitas pessoas. Orgulho, gabarolice, sei lá. Ver lá nascer o Sol não significa que se tenha chegado muito cedo. Ver nascer o Sol é mais do que ver amanhecer. É testemunhar o momento em que aparece no horizonte vindo das trevas. É mais do que o ver subir no céu. Significa que se trabalhou de noite. E isto de se trabalhar de noite para quem não faz turnos e só devia trabalhar de dia é um estandarte a transportar. Vi nascer o Sol quando tive uma release  de código que tinha que ser feita durante a noite e que durou até de manhã. Trabalhei de noite porque era preciso. Trabalhei de noite no escritório porque era assim que se trabalhava antes de se perceber que de casa, afinal, também se trabalha. Até de noite, vejam lá. Perceber, aceitar, render-se à evidência ou à necessidade. Era isso ou parar. Trabalhei muitas outras vezes durante a noite por razões ...

Temos tanta coisa

Temos uma casa, por isso damos por garantido ter um teto onde ficar. Ter uma cama onde dormir. Não ter frio nem ter medo. Temos roupa para vestir e sapatos para calçar. Temos coisas que já nem nos lembramos que temos. Temos família e amigos, mais ou menos, muito chegados ou mais afastados. Mas sabemos que, se precisarmos, eles, em princípio, estão lá para nós. Tal como nós para eles. Damos por garantido ter o que comer. Há qualquer coisa no frigorífico, no congelador ou na despensa. Há qualquer coisa, nunca é o que apetece, mas há. E se não houver vai-se comprar. O supermercado está caríssimo, mas ainda conseguimos comprar. Fazendo mais ou menos contas, abastecemos o carro. Abusamos dele para ir a todo o lado porque ele está ali à nossa disposição e escusamos de ir a pé. Principalmente hoje que dizem que pode chover. Damos por garantida a segurança, vivemos num país seguro por muito que ultimamente nos tentem vender o contrário. Não sabemos o que é não estar seguros, ter medo que nos a...

Era tudo bem mais divertido se fôssemos músicos

Gosto de assistir a um podcast semanal de música. Nasceu na pandemia (como tantos outros) e dura até hoje (como poucos). Podia ser hipócrita e dizer que sou fã desde o início mas, na verdade, só o descobri no final do ano passado. Mas não sou menos fã por isso. É descontraído, leve, bué engraçado. E tem boa música e bons músicos, o que é sempre bom. Dei por mim a pensar, esta manhã, enquanto assistia a um dos vídeos, o quão giro deve ser um encontro de músicos. De gente que sabe toda cantar ou tocar. Deve ser sempre uma festa. Basta dar a indicação de se o tom da música é em Fa ou em Mi (ou noutra nota qualquer) e, de repente, todos tocam e cantam em uníssono. Conseguem todos acompanhar uma conversa acerca de uma canção, como está escrita, como foi musicada. Do fulano que a escreveu, do que fez a melodia, de quem fez os arranjos e porque os terá feito daquela forma. Discutem se fariam igual, fazem uma nova versão da canção mudando um pouco a melodia. Ou fazem uma brincadeira, mudando ...

Xixi ao léu

Não, este texto não é sobre fazer xixi na rua. Mas podia ser. Este texto é sobre não ter problemas em andar por aí com o frasquinho das análises à urina à vista (depois de devidamente cheio, pois claro). Muita gente (eu incluída) tem pudor em mostrar o seu xixi ao mundo. Por isso, quando toca a fazer análises, o frasquinho vai devidamente enfiado num saquinho de plástico que não permite ver o interior (mas que toda a gente percebe o que lá está dentro). O saquinho de plástico também serve para evitar fugas indesejadas (já me aconteceu!) mas, principalmente, para não se ver o conteúdo. Há quem opte por só fazer o xixi no local. Já não bastaria o jejum e ainda vão à rasquinha para fazer xixi. Escusam de ir com o xixi atrás, dizem. Acho que estas pessoas são as mais púdicas no que a xixi diz respeito. Se bem que têm pelo menos que passar um corredor com o belo do frasco na mão, não sei se adianta muito. Hoje vi uma pessoa com falta de pudor suficiente para se passear na rua com o seu xixi...

A felicidade que pode ser perdermos a clareza de ideias

Os velhos, às tantas, não dizem coisa com coisa. Misturam assuntos. Dizem que fizeram isto e aquilo sem terem feito nada. Não sabem onde estão ou o que estão lá a fazer. Dizem que falaram com A, B ou C, que já estão a fazer tijolo há muito tempo. Que foram aqui e ali sem na verdade terem saído do lugar. Julgam que os vão levar para casa em breve. Parecem estar noutro mundo ou na lua. Nem que seja apenas por breves instantes. Segundos de trevas que parecem interromper a luz. Ou será ao contrário? Talvez seja da velhice. Talvez seja dos medicamentos.  Talvez. Talvez seja sem querer mas, em certa medida, propositadamente. Que também eu perca a clareza e o discernimento quando eles já não me trouxerem benefício algum.