Temos uma casa, por isso damos por garantido ter um teto onde ficar. Ter uma cama onde dormir. Não ter frio nem ter medo.
Temos roupa para vestir e sapatos para calçar. Temos coisas que já nem nos lembramos que temos.
Temos família e amigos, mais ou menos, muito chegados ou mais afastados. Mas sabemos que, se precisarmos, eles, em princípio, estão lá para nós. Tal como nós para eles.
Damos por garantido ter o que comer. Há qualquer coisa no frigorífico, no congelador ou na despensa. Há qualquer coisa, nunca é o que apetece, mas há. E se não houver vai-se comprar. O supermercado está caríssimo, mas ainda conseguimos comprar.
Fazendo mais ou menos contas, abastecemos o carro. Abusamos dele para ir a todo o lado porque ele está ali à nossa disposição e escusamos de ir a pé. Principalmente hoje que dizem que pode chover.
Damos por garantida a segurança, vivemos num país seguro por muito que ultimamente nos tentem vender o contrário. Não sabemos o que é não estar seguros, ter medo que nos assaltem, que nos roubem o pouco que temos connosco ou que nos matem.
Abrimos uma torneira e temos água, ligamos um interruptor e temos luz. Temos até água quente. Temos casa de banho, esgotos e quem recolha o lixo que fazemos em demasia.
Temos saúde. Uns mais, outros menos. Mas cá vamos andando.
Temos tanta coisa a que nunca damos valor. Porque está tudo à nossa disposição e não exige esforço nenhum. Porque damos tudo por garantido. E é. Até ao dia em que falte.
Temos tanta coisa.
Temos tanta coisa e achamos sempre que não temos nada.
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