Sempre gostei de massa. Qualquer que seja, não importa o tamanho ou o formato. Não sou esquisita quanto à aparência da dita cuja, gosto de massa e pronto.
Há quem prefira arroz, mas eu gosto mais de massa. É por isso que o Mundo não tomba, como se costuma dizer.
Se agora viessem com aquelas teorias (como tantas vezes quanto a tantas outras coisas) de que o arroz afinal faz mal; se me dissessem que a partir de agora só podia comer massa... Era para o lado que dormia melhor. Venha ela.
Mas isto não é de agora. Foi sempre assim.
Muitos serões em casa da minha Avó S. foram acompanhados de esparguete para a ceia. Não porque fosse regra da casa, mas porque eu tinha fome e que melhor do que ir comer esparguete??
Já tinha idade para mexer no fogão (hoje em dia demora-se mais a poder mexer no lume) e lá ia eu para a cozinha pegar num tacho muito reles (a bem dizer, numa caçarola) que desconfio que a minha Avó comprou na Galinha Gorda ou coisa que o valha.
"Lá vai ela comer massa"
O tacho tinha uma pega em plástico preto e tampa em vidro, cuja pega era do mesmo plástico. Quando estava ao lume o plástico aquecia e cheirava... A plástico barato quente. Ainda hoje consigo reconhecer esse cheiro e, quando isso acontece, sou transportada para o fogão e lá estou eu com o tacho ao lume a olhar para a água a ferver.
A água levava meio caldo Knorr de Galinha e a massa, depois de cozida, um bocadinho de margarina. A impaciência era tanta que, na maioria das vezes, a massa era comida ainda meio crua. Não, não estava al dente, estava mesmo crua. Mas sabia-me pela vida. Era sempre comida dentro de uma taça amarela, da mesma forma que era sempre cozida naquele tacho.
São 22h18 e estou a comer esparguete.
Este não está meio cru; a idade traz paciência. Foi religiosamente cozido com caldo Knorr de Galinha e levou margarina no fim. Curiosamente, está também a ser comido numa taça amarela. Noutra, porque as originais (duas, se não me falha a memória) não puderam ser aproveitadas. Tal como o tacho da Galinha Gorda ou, quem sabe, da Loja dos 300.
Estou a comer esparguete possivelmente com um garfo que também serviu este propósito no passado. A massa foi cozida quase no mesmo sítio, não fosse a cozinha ter mudado de disposição. Estou a comê-la onde costumava dormir, porque o quarto agora é sala e também é cozinha. Estou a comê-la na mesma casa, mas não no mesmo lar. Estou a comê-la sozinha, embora esteja acompanhada. Talvez por isso não saiba ao mesmo. A massa encheu o estômago, mas deixou vazio o coração.
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