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Penny... Penny... Penny

A minha POC (que, como já vos disse um dia, não foi diagnosticada, mas está altamente comprovada) consegue ser bastante cansativa. Obriga-me a demorar o dobro ou o triplo do tempo a fazer as coisas e dá-me cabo do juízo.

Sim, eu sei, é difícil entender como raio é preciso verificar 2 e 3 vezes se está realmente fechada uma porta que se acabou de fechar. É difícil aceitar que um objecto deva estar milimetricamente alinhado em cima do móvel ou o caos está instalado naquela divisão. É difícil entender como alguém não consegue resistir à necessidade, aparentemente infundada, de fazer a coisa A ou de não fazer a coisa B.

É difícil mas, por favor, mesmo que custe, aceitem e ao menos finjam que entendem. Porque não é mais fácil para quem tem que lutar diariamente com estes fantasmas. É cansativo, desesperante. Eu sei que fechei a porta e acabei de confirmar, mas a minha cabeça só descansa se verificar novamente. E voltar a verificar depois.

Pode ser a porta de casa, como pode ser a do carro ou a do frigorífico. 

Pode ser a tampa de uma garrafa ou de um frasco.

Ou o fecho da mala. Ou uma torneira.

É abrir os estores até determinada altura e ter todos milimetricamente alinhados.

Alinhar as torneiras.

É verificar vezes sem fim se, o que pus no bolso das calças, ainda lá está.

Se a mala velha ou o saco estão mesmo vazios e os posso mesmo deitar fora sem que alguma preciosidade esteja escondida bem lá no fundo e vá parar ao lixo.

É alinhar as cores das molas da roupa e, se necessário, trocar todas se, no fim, por falta de molas, não for possível ter a mesma cor na mesma peça ou estabelecer um padrão. Porque as peças que levam mais do que uma mola, levam duas (iguais) ou então números ímpares (3 ou 5), com cores alternadas e, claro, seguindo um padrão.

É fazer xixi sempre antes de sair de casa e voltar a fazer se não sair no imediato. Repito, no imediato. Logo, logo a seguir.

Muitas vezes este "logo a seguir" é interrompido por uma segunda ou terceira verificação das torneiras, estores até das luzes mesmo estando já na penumbra.

É fazer zapping sempre a começar no canal 1.

Endireitar as toalhas nos toalheiros.

É precisar de tocar num certo objecto de determinada forma ou seguindo determinado padrão de movimentos ou algo de mau acontecerá a alguém de quem gosto.

Ter paranóia por coisas pares e contar os goles de água. Devem ser dez, independentemente do tamanho do copo. Há, por isso, que ir controlando o tamanho de cada gole. Se a sede não for assim tanta, é seguir a regra dos pares.

É contar o dinheiro 3 ou 4 vezes e voltar a confirmar no final.

Contar a comida necessária por pessoa e ter que seguir escrupulosamente a fórmula encontrada para a divisão. O que significa dividir a comida pelos pratos quase ao nível do bago de arroz. Tal como retirar do tacho a exacta medida tendo em conta quantas pessoas já se serviram e quantas ainda se faltam servir.

Comer 12 passas no final do ano, antes que comecem as 12 badaladas, e pedir 1 desejo por cada uma delas, por ordem de importância.

Fazer repetidamente as mesmas ações, como dar uma festa na cabeça do gato depois de lhe colocar a comida no prato (é o sinal de "já podes comer", como se ele precisasse de autorização).

É estabelecer padrões e regras para tudo e ter que os cumprir. Escrupulosamente.

E, por ser esse o meu normal, demorar dias a escrever este post porque nem todas as ações me parecem relacionadas com o POC numa primeira instância... É preciso fechar os olhos e concentrar na ação, nas motivações, na recorrência e nas supostas consequências para definitivamente a encaixar aqui, num texto cheiro de anormalidades completamente normais para mim e para tantas outras pessoas. Para quem não sabe realmente como é viver com isto, são apenas caprichos de quem não tem mais com que preocupar.

As coisas têm que ter regras e têm que fazer sentido neste cérebro complicado.

É ser incapaz de simplificar a mais banal das ações ou, por outras palavras, ter a capacidade de a complicar.

É ter rotinas sem na realidade precisar delas. E, principalmente, é ter noção de que nada disto faz sentido mas, ainda assim, não conseguir sair do loop.

Por isso é que é tão importante não desvalorizar, não chamar as pessoas de parvas, tontas que não devem ter mais nada para fazer se têm tempo para estas mariquices. Porque ninguém escolhe precisar de bater à porta 3 vezes, repetindo o nome da pessoa com quem quer falar, por muito engraçado que isso possa parecer. Como ninguém decide que hoje não consegue sair do prédio porque volta sempre atrás para confirmar se fechou a porta da sua casa.

Ninguém escolhe.

E como ninguém escolhe e ninguém faz isto por capricho, por favor, não desvalorizem... O Sheldon é engraçado, toda a gente se ri dele, mas esta personagem representou e continua a representar uma dimensão bem maior que ela mesma, que supera a comédia em larga escala.

 

Sejam felizes, não julguem os outros só porque se sentem numa qualquer posição superior e se acham no direito e... Sonhem!

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