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Ponham no Facebook, no Instagram, no Tiktok ou...

Felizmente, nasci antes de existirem redes sociais e telemóveis.

Sou do tempo em que as pessoas falavam umas com as outras e em que um rolo de 24 fotografias dava bem para 15 dias de férias no Algarve.

Já ninguém sente a alegria (ou a desilusão) de ir buscar as fotos reveladas ao fotógrafo e encontrar umas quantas surpresas: umas tremidas, outras descentradas, algumas boas e ainda algumas tiradas sabe-se lá por quem. Não, já ninguém sabe o que isso é. Hoje em dia ninguém tem paciência para esperar por nada, quanto mais por revelação de fotos. Seguia-se o ritual de as colocar no álbum, fosse no oferecido pelo fotógrafo ou outro. Mas não sem antes escrever no verso de cada foto o local e a data de cada uma: Manta Rota, Agosto de 1992.

Os álbuns ficavam religiosamente guardados num qualquer móvel, em casa. Nas gavetas ou nas prateleiras, conforme coubessem. E cabia sempre mais um.

De vez em quando uma pessoa lá se lembrava (e lembra!) da sua existência e os álbuns saem do armário para que, quem nós entendemos, veja as fotos que por lá se guardaram a relembrar alegrias (e até tragédias) passadas. No final, voltam todos ao armário, embora pareça sempre que não vão caber.

E é isto, uma série de rituais que se perderam no tempo, porque agora temos todos uma máquina fotográfica no bolso (entre outras coisas), que não precisa de rolo nem pilhas. O telemóvel só precisa de estar carregado e ter espaço de armazenamento.

Hoje, as 12, 24 (ou, na loucura, 48) fotografias de um rolo, não chegam para uma selfie. Porque a luz não está boa, porque se vê a cama por fazer lá atrás, porque o espelho reflete o telemóvel, porque o sorriso não ficou perfeito, porque... se pode. A verdade é essa. Pode-se ver o que se tirou e escolher o que se quer, porque já não é preciso revelar nada.

Como tal, também já não se guardam fotografias em álbuns, ficam em cartões de memória ou na cloud até que um dia lhes dê o 'badagaio' e percamos tudo (sim, eu sei, o papel também se estraga).

Cada vez é mais difícil conseguir cumprir o ritual de, de vez em quando, ir buscar os álbuns para mostrar a alguém as fotos de quando éramos bebés, da visita de estudo a Vila Viçosa, da viagem ao norte ou, simplesmente, para recordarmos nós próprios todas essas aventuras.

Também não precisamos, aquelas que queremos que sejam vistas já as pusemos numa rede social qualquer. Seja para partilharmos que fomos de férias, para mostrarmos uma desgraça da nossa vida (ah, mundo cruel!) ou apenas porque sim.

Na nossa foto (aquela que queremos muito que os outros vejam - isto é extremamente importante: os outros e aquilo que eles pensam de nós) vão, além de nós mesmos e das nossas coisas, outras pessoas... E, assumindo que todos concordaram com a partilha, só terão que se haver com as suas próprias (más) decisões no futuro.

Mas, além se seres capazes de opinar e decidir, naquela foto vai também o filho, a sobrinha, a afilhada e o enteado que, por serem novos demais para terem o discernimento suficiente ou por ainda nem sequer perceberem o que se está a passar, vão arrastados para uma rede social, ser vistos sabe-se lá por quantas pessoas e ficar na internet para sempre (não há RGPD que valha quando ninguém lê as miudinhas a dizer que todo e qualquer conteúdo audiovisual, ao ser carregado na rede social, passa a ser propriedade da empresa que disponibiliza a plataforma).

Uma rede social é como um gigante álbum de fotos que está perdido na rua. Ninguém o foi buscar ao armário para mostrar. Está ali e pronto. Quem quiser vê, quem quiser usa para o bem (ou não usa), quem quiser usa para o mal (ah... tantos!).
É também como um diário deixado de cadeado aberto, um livro de endereços com todos os sítios por onde temos passado. Sabe-se onde estivemos (ou estamos!), a que horas e com quem. Os nossos hábitos estão, de repente, num livro aberto a quem os quiser saber.

Daqui a 5, 10, 20 anos, uma série de pessoas que não foram vistas nem achadas na decisão de publicar uma foto ou vídeo inocente (e outras tantas que não pensaram antes de fazer upload ou escrever uma dúzia de palavras), vão ter toda a sua vida exposta na internet... Vão estar lá coisas fofinhas e também as embaraçosas. Bonito. Coisas que "os outros" aprovam e coisas que uma empresa vê antes de decidir entrevistar um candidato a um emprego ou ponderar contratá-lo. Coisas que uma seguradora vê antes de aprovar um seguro. Coisas isoladas da vida de cada um, que podem ou não representar fielmente aquela pessoa e que vão ser fundamentais da apreciação que vão fazer dela.

Nada disto deveria ser novidade para ninguém, mas as pessoas parece que ainda não se aperceberam das consequências que vão ter no futuro estes bebés e crianças (e elas próprias) cuja vida foi 'escarrapachada' na internet por pessoas cheias de boas intenções, como mostrar o quão fofinho é o filho ou a asneira que ele acabou de fazer.

Não são só os pais que o fazem, também as escolas o fazem. E pôr emojis nas caras das criancinhas não resolve tudo.

Além de que, mais cedo ou mais tarde, grande parte dos pais acaba por ceder por pressão social.

"Em bebé não punha, mas agora já tem 6 anos." - qual é a diferença?? Com 6 anos já sabe avaliar as consequências de ter a sua vida exposta na internet? Escolheu estar? Tem discernimento suficiente para tomar tal decisão? Não tem, nem decidiu nada, como seria de esperar. Isso devia ser o papel dos pais e demais educadores!

Confesso que já não tenho paciência para isto...

Por isso, já não quero saber, ponham no Facebook, no Instagram, no Tiktok ou enfiem isso no cu. Logo se vê o que acontece mais tarde.

P.S.: sim, é válido para uma rede social, como é válido para um blog, mas não precisam se se preocupar comigo.


Sejam felizes, sonhem e... tenham mais atenção à informação pessoal que partilham na internet.

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