Avançar para o conteúdo principal

A ganância é uma senhora com palas nos olhos como os burros

Já toda a minha gente anda numa azáfama.

O Mundo admirou-se com a escassez de tinta cor de rosa por ocasião do filme "Barbie"... Pois venham à Capital do Cavalo, todos os anos entre Julho/Agosto e Novembro, se querem ver o que é escassez de material.

Ele é para pintar a frontaria, para fazer mais uma cavalariça, para dividir uma sala em 2 quartos, para construir um barracão numa horta e levianamente  chamar-lhe "casa para alugar no S. Martinho", para arranjar um telhado onde já chove há 2 São Martinhos (*)...

Não há material de construção civil que resista. Nem empresa. Bem, nem trolha.

Aquelas quase 2 semanitas em Novembro são a galinha dos ovos de ouro dos Goleganenses, por isso, há que preparar tudo com antecedência.

São a galinha dos ovos de ouro mas calma lá! Não valem mais que uns beliches duvidosos, uma cama de casal de 1970, uma chapa de zinco em cima de 4 estacas, um chão enlameado, um autoclismo que só funciona às vezes, uma cozinha equipada com os melhores electrodomésticos de 1983, um portão que fecha mal e uma "cavalariça", que não se vai agora gastar mais dinheiro com isto!

Quere-se ganhar bem, mas não se quer investir. Porque não se percebe o conceito de investir. Só se sabe o que é gastar e o que é ganhar. E, claramente, prefere-se a parte do ganhar.

E aqui anda o povo nesta roda viva anual, que esgota toda e qualquer capacidade de construção civil na zona.

(*) O ano aqui não vai de janeiro a dezembro, vai de dezembro a novembro, o rei de todos os meses, que supera até os anseios pelo pai natal e pela festa do final de ano. O calendário local tem esta peculiaridade. Aqui, Novembro é mês de feira, de cavalos, de correria, de bebedeiras, de ver gente na rua, de tirar o pó à casaca e esquecer que, ainda assim, cheira a bafio. Por isso, por aqui não passam os anos, passam os São Martinhos. Aqui não se conta até à meia noite nem faz falta fogo de artifício, em acabando a feira, passou mais um S. Martinho. Toda a gente sabe isso.

Para muito boa gente, se não fosse o S. Martinho, bem que se podia saltar dezembro pois não haveria verba para presentes, bacalhau, camarão e espumante.

Se houvesse investimento em vez de se taparem buracos - porque a ganância tem a consequência de tapar a vista - talvez o camarão passasse a ser tigre. Talvez no próximo S. Martinho viessem as mesmas pessoas, que até eram como deve ser. Talvez no S. Martinho seguinte se conseguisse construir mais dois quartos, um WC e mais uma cavalariça para 3 cavalos.

E talvez se ganhasse mais.

Mas era preciso tirar as palas dos olhos. Deixar a logica superar a ganância e perceber a diferença que existe entre gastar e investir.

Afinal, esta é a feira do cavalo, não do burro.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Desiludem-me, portugueses

Tinha-vos em melhor conta. Mas, afinal, vota-se em quem destila ódio. Toda a gente sabe que isso é sinal de se ser mais capaz. Quem grita mais tem mais razão. Claro. Como não sou eu capaz de ver isso?... Vota-se em quem faz a conversa de café. Quem manda os outros para a terra deles, como se nós nunca tivéssemos ido para a terra de ninguém. E como se não nos fizessem falta alguma. Vota-se em quem manda trabalhar os malandros, os chupistas da sociedade que não fazem nenhum e vivem à mama. E são tantos. Incluindo os que não interessam para a estatística. Vota-se em quem diz o que se quer ouvir, sem pensar nas consequências disso. Vota-se sem pensar se quem diz o que se quer ouvir, consegue realmente fazer o que é preciso. Mas o voto é livre, tal como a opinião. Por isso, cada um saberá de si - assim espero. Julgo, no entanto, que muitos professores de História estarão agora a levar as mãos à cabeça, pensando que, afinal, não conseguiram ensinar nada a ninguém. Nem mesmo aos que passaram ...

Nem tudo o que enche o estômago enche o coração

Sempre gostei de massa. Qualquer que seja, não importa o tamanho ou o formato. Não sou esquisita quanto à aparência da dita cuja, gosto de massa e pronto. Há quem prefira arroz, mas eu gosto mais de massa. É por isso que o Mundo não tomba, como se costuma dizer. Se agora viessem com aquelas teorias (como tantas vezes quanto a tantas outras coisas) de que o arroz afinal faz mal; se me dissessem que a partir de agora só podia comer massa... Era para o lado que dormia melhor. Venha ela. Mas isto não é de agora. Foi sempre assim. Muitos serões em casa da minha Avó S. foram acompanhados de esparguete para a ceia. Não porque fosse regra da casa, mas porque eu tinha fome e que melhor do que ir comer esparguete?? Já tinha idade para mexer no fogão (hoje em dia demora-se mais a poder mexer no lume) e lá ia eu para a cozinha pegar num tacho muito reles (a bem dizer, numa caçarola) que desconfio que a minha Avó comprou na Galinha Gorda ou coisa que o valha. "Lá vai ela comer massa" O ta...