Nascem, crescem e morrem sem a alegria de fazer merda e poderem rir-se disso sem ter de olhar por cima do ombro
São idolatrados... E têm súbditos (o que, nos dias que correm, me faz muuuitaaa espécie).
São, aparentemente, perfeitos. Não fazem merda como nós.
A roupa não tem um vinco - muito menos uma nódoa - os sapatos não magoam os pés e o penteado nunca se desmancha.
Assumem cargos só porque nasceram. Não importa que não tenham competência, foram treinados toda uma vida.
Príncipes e Princesas, Reis e Rainhas (uns com mais sorte que outros!), deste nosso estranho Mundo, vivem uma espécie de conto de fadas, meio novela. Nascem, crescem e morrem sem a alegria de fazer merda e poderem rir-se disso sem ter olhar por cima do ombro.
Costas direitas, roupa XS (a morarquia, quando engorda, só o faz em idades muito tardias), discursos controlados (às vezes!) e sem demonstrar emoções. Trezentos mil filhos, todos de lacinhos na cabeça ou meias até ao joelho onde bate a baínha do imaculado calção azul escuro. E morrem todos "serenamente", alguns durante o sono (parece que isso é comum a todos os ricos e famosos), até na morte o pobre tem que ficar abaixo. Os desgraçados dos pobres nem na morte escapam.
Se caem na asneira de cometer um disparate, são silenciosamente afastados (fica mal ter na família uma pessoa com problemas; se não têm uma nódoa na roupa iam lá ter alguém a manchar-lhes a reputação).
Casam e ganham um castelo algures, o presente básico de qualquer casamento. E também um palácio para férias (para descansarem da vida agitada do chove-e-não-molha).
Nunca devem ter feito um ovo mexido na vida e, se fizeram, deviam ter 4 ou 5 criados à volta. E certamente a galinha real tinha pedigree, que a realeza não come um ovo qualquer.
Até no WC deve estar um criado sempre prestes a trazer mais um rolo do papel higiénico real, caso o existente acabe. Fora o criado que limpa o cu real, que a realeza não pode sujar as mãos.
É tudo muito giro, mas deve ser tudo muito triste.
A morte da Rainha de Inglaterra foi, sem duvida, um marco histórico. Pelas circunstâncias do seu reinado. Mas já era tempo de acabarem com essa (real) palhaçada e começarem a brincar à República a sério.
O novo Rei agora é que vai dar a volta àquilo, alguém ofereça uma esferográfica Bic ao homem e o céu é o limite.
Os milhões gastos no funeral alimetariam muitas bocas, mas nem vou entrar por aí. Se os ingleses papam a fontochada, não vou ser eu a estragar a festa. Se calhar eles estão todos bem (devem ter um arco-íris pintado na testa).
Não julgo quem sentiu necessidade de se ir despedir, ou então, que se dane, julgo sim. Aposto que grande parte do público que se foi despedir da Rainha e esteve dezenas de horas a encher chouriços nas filas, ao frio, se fosse chamado a trabalhar num fim de semana ou a fazer mais 2h excessionalmente e à chuva, não ia porque não lhe pagavam ou, se pagassem, nunca seria o suficiente que justificasse tal sacrifício.
Há pessoas com as prioridades trocadas, só pode.
Deixem-se ficar a ver a novela, repete sempre meio episódio pelo menos, não se esqueçam.
Felizes os simples, os que se sujam a comer qualquer coisa com molho, que se despenteiam ao vento e que fazem sempre, mas sempre, merda com estilo.
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