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Às vezes gostava de ser um bocadinho menos igual a mim

Todos temos a nossas coisas. O nosso feitio. Saímos à mãe, ao pai ou a outro familiar qualquer, mas o nosso cunho pessoal está lá. Podemos ser muito parecidos com alguém mas, nunca seremos iguais.

Mesmo que acostumados a capas, máscaras ou outros disfarces, todos temos um lugar, uma circunstância ou uma conjugação destas ou de outras condições em que agimos ao natural, em que somos nós mesmos, sem disfarces. Transparentes como água, para o bem e para o mal. Tipicamente isso acontece quando nos sentimos à vontade em determinada situação; um dos locais em que isso acontece é em nossa casa.

Hoje em dia parece que isso acontece cada vez menos. Vivemos num mundo digital, onde metade da vida é online e, à distância, bem sabemos, podemos ser e dizer o que quisermos. Podemos ser heróis ou vítimas, conforme der mais jeito. Somos especialistas em tudo e temos sempre uma opinião a dar (normalmente, achamos nós, a opinião "certa").

Acontece cada vez menos, mas logicamente que tem de acontecer, seja propositadamente ou por descuido (ninguém aguenta uma máscara por muito tempo, mesmo que tenhamos visitas em casa).

Vai haver sempre um situação em que nos desmanchamos todos. Ao cair do pano, quando quem está a ver não precisa de sorrisos amarelos porque já nos conhece. Ou ainda em palco, porque, com tanta preocupação de como a nossa vida é vista pelos outros, esquecemo-nos de viver e, aí, vivemos sem querer.

Temos manias, jeitos, hábitos que aos outros podem parecer estranhos. Temos qualidades e temos defeitos. Novidade: os outros também. Mesmo que vestidos de super heróis num qualquer post numa rede social.

Não somos obrigados a adorar as nossas próprias manias, os nossos jeitos, as nossas "cenas". Mas isso não significa  obrigatoriamente que as queiramos ou consigamos mudar.

Não há mal nenhum em sermos nós mesmos antes do cair do pano. Sermos puros, humildes e destemidos. Mas também não há mal nenhum em almejarmos ser diferentes, é isso que nos faz evoluir. No entanto, uma coisa é crescer, outra, é pôr a máscara de vez em quando para nos sentirmos melhor naqueles 5 minutos a falar com fulano X; isso só faz doer mais quando a tiramos. Não ajuda a crescer, remedeia 5 minutos da nossa existência para depois voltarmos à fossa.

Como todos, às vezes também gostava de ser um bocadinho menos igual a mim. Mas, na verdade, isso é também o que faz de mim ser como sou.


Sejam felizes, não se esqueçam que ninguém é perfeito e... Sonhem!

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