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Mensagens

A mostrar mensagens de dezembro, 2024

Ninguém morreu por não comer Bolo Rei

É bem capaz de ter sido o primeiro Natal - pelo menos de que eu tenha memória - em que não se comeu Bolo Rei. Também deve ter sido dos poucos em que não sobrou Bolo Rei. Porque não se comprou Bolo Rei. Comprou-se só um Bolo Rainha; cá em casa é o que agrada à maioria e assim sobrou menos. Claro que sobrou tudo o resto. Sobra sempre. Sobrou bacalhau, sobraram coscorões e o presunto vai acabar por secar certamente. Sobrou tudo, para não faltar nada. O que sobrou foi partilhado, dividido, só falta agora tentar que não seja desperdiçado. Mas vai ser. Alguma coisa vai acabar por ir parar ao lixo ou às galinhas. Que seja algo que as galinhas comam, pelo menos não será desperdício total. Sejam felizes, sonhem e tentem desperdiçar um bocadinho menos na passagem de ano.

Ninguém morre se não comer uma fatia de bolo especial de corrida este ano

Bolo Rei ou Bolo Rainha? Um de cada, há quem não goste de frutas cristalizadas. Põe mais 2 ou 3 postas de bacalhau, vale mais a mais que a menos. Sobrar que faltar. A lareira está acesa há tantas horas que não se pode estar aqui com o calor... Vai sobrar tronco de Natal de certeza. E coscorões, 1Kg se calhar foi demais, mas 1/2Kg também era pouco. O presunto vai secar todo, quase ninguém comeu. Nós, aqui, preocupados com problemas de 1o Mundo, nem nos lembramos que em pleno século XXI ainda há quem passe fome e frio. No Natal parece tudo mais evidente, de repente toda a gente tem pena dos pobrezinhos, dos sem abrigo, das criancinhas que passam fome, dos velhinhos que passam frio. Mas os pobrezinhos, os sem abrigo, as criancinhas, os velhinhos e todas as outras pessoas que passam por privações e dificuldades também existem no resto do ano... E nós, aqui, preocupados em comprar dois bolos, dos quais metade vai sobrar, porque alguém pode não gostar de frutas cristalizadas.  Nós, a abu...

Monte de terra com ervas

Descreve o que vês da janela do teu quarto. Era este o mote para uma composição.  A professora de Língua Portuguesa teve uma boa ideia, pôr os alunos a contar uns aos outros o que todos os dias contemplavam através a sua janela. Uns certamente escreveram que viam a rua, os carros e as bicicletas a passar. Outros, um jardim, com árvores e passarinhos. Outros ainda um parque infantil onde viam os outros meninos brincar. Uns viam a casa do amigo ou o quintal do vizinho. Viam carros, viam lojas, viam pessoas. A ideia tinha tudo para dar bons frutos não fosse uma suposição básica: a de que todos os alunos de facto viam coisas minimamente interessantes através das janelas dos seus quartos. Coisas das quais se poderia dissertar mais do que meia dúzia de palavras... "Um monte de terra com ervas". Era isto que eu tinha para escrever naquela composição, porque era isto que eu via: um monte de terra com ervas. Não era um jardim, era um monte de terra com ervas. Não eram pessoas, era um ...

O(s) rosto(s) da urgência de um hospital

Rostos perdidos, de quem não sabe o que fazer. Rostos desorientados, de quem não sabe para onde ir. Rostos felizes, de quem vem por boas notícias. Rostos tristes, de quem não. Rostos sôfregos, de quem já teve melhores dias. Rostos pálidos, de quem parece estar mais para lá. Rostos apáticos, de quem veio sem saber que está cá. Rostos silenciosos, de quem grita por dentro. Rostos cansados, de quem todos os dias ajuda os perdidos a encontrar o caminho, orienta os desorientados e traz esperança a quem pensava já não haver solução. Rostos indiferentes, de quem não pode ver com o coração. Rostos preocupados, de quem não sabe o que aconteceu. Rostos incrédulos, de quem ainda não sabe bem como. Rostos impacientes, de quem não é capaz de aguentar mais a calma dos outros. Rostos aliviados, tanto de quem entra como de quem sai. Rostos desesperados, de quem não sabe como vai ser agora. A urgência é isto. É perda e desorientação. Pode ser felicidade, mas muitas vezes é tristeza. É sofreguidão, apat...