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"Cornovírus" - desculpa Monchique!

Em fevereiro, quando o 'novo corona vírus' ainda era só uma daquelas coisas distantes que dão no telejornal, daquelas que nunca chegam ao nosso cantinho, o Joaquim Monchique brincou chamando-lhe "cornovírus" na brilhante peça 'Mais respeito que sou tua Mãe!'. Desculpa Monchique, mas nessa noite, como diria um colega meu, plantaste a sementinha no mal em mim e a partir daí roubei-te o "cornovírus"!

Se tivesse sido duas semanas depois talvez já não tivesse ido ao Porto e talvez lhe chamasse agora outra coisa!

Não que morra de amores pelo bicho mas, se é para termos qualquer coisa, ao menos que tenha graça. E "cornovírus" tem, pelo menos para mim. Podia dissertar acerca do tema e dizer que com este vírus já muitos estavam infetados, com um ou mais valentes pares de cornos na testa; mas o cabrão do bicho está a todo um nível acima do adultério. É que nem precisas tocar, o bicho pega com qualquer espirro mais descontrolado. E pimba, apanhas "cornovírus" em menos de nada.

Naquela altura, em Fevereiro, uma pessoa ainda brincava quando alguem espirrava ou não se respirava quando se cruzava com algum asiático na rua... Mas, num ápice, o cabrão do "cornovírus" apanhou boleia dos mais deprevenidos e espalhou-se por aí que nem pó ao vento. Deixou de ter assim tanta piada brincar com os espirros e, afinal, também nem só de asiáticos vive o bicho (Vai que na volta até somos mesmo todos iguais, hein?...).

Pois que nessa altura tudo mudou:
  • ficar a trabalhar a partir de casa para os que podem, numa demanda quase ao nível de filme de desgraças naturais;
  • tentar comprar álcool para desinfetar as mãos (e, claro, toda a gente pensou ou mesmo e o álcool acabou). O mesmo aconteceu com o papel higiénico, vá-se lá entender porquê...;
  • tentar comprar máscaras porque, afinal, talvez seja mesmo preciso usá-las. Compradas a peso de ouro e, daí a uns tempos, ao preço da afamada 'uva mijona';
  • vai de tentar comprar também luvas, lixívia e tudo mais que pudesse ajudar a limpar;
  • e toca a andar afastado do próximo que, assim sendo, já não é assim tão próximo;
  • saber sempre quantos mais mortos e infetados houve a cada 24h e julgar as decisões de quem, mesmo não sabendo tudo, sabe mais do que nós, certamente.

E pronto. A partir daí isto passou a ser o nosso dia-a-dia, o tal "novo normal" como dizem por aí. Uma coisa simples como ir ao supermercado parece uma ida à Lua.

Confina, desconfina, isola, lava, desinfecta. Não se podia visitar a família nem sair do concelho... Mas entretanto, esquece-se, relativiza-se e até a família de longe podemos visitar porque "epah, é o tio Zé...". De repente até reparamos que, em bem não, lá levamos as mãos à cara e esfregamos os olhos... Lavar as mãos durante 20s... Ou serão 40s? Ah! É enquanto se canta os 'Parabéns'!! Nunca estivemos tão limpinhos.

E nós lá vamos andando. E o bicho também. Continua a relativizar-se demasiado, a facilitar-se, a fazer-se coisas que não se devia fazer... Apanhou-se aquele cagaço inicial mas, agora, a menos que alguém nosso conhecido seja infetado pelo bicho do "cornovírus", voltou a ser aquela coisa distante que vemos no telejornal e que parece só afetar os outros. Até já passa nos intervalos das notícias da bola, está safo. Sim, o sinal de que está quase a passar é o telejornal ter 50min de futebol e, pelo meio, 10min de notícias a sério.

Enfim...

Malta, não facilitem... Pode não haver ficha para mais uma voltinha no carrocel. E pior, cada um é o responsável pela ficha do outro... Dos pais, dos avós, dos amigos, dos colegas,... E o arrependimento depois  não resolve nada.

Sejam felizes, sonhem, cuidem de vós e cuidem dos outros!

#desculpamonchique

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