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O 'diz que disse' e a besta que há em cada um de nós

Somos todos bestas. É verdade.
Por muito que apontemos o dedo ao outro, nós somos iguais.
O ser humano é exímio na arte do "vou-te contar uma coisa mas não digas a ninguém"
No dia seguinte já vamos em "fulano contou-me uma coisa e pediu-me para não dizer nada a ninguém, mas a ti vou contar"
Daí a uma semana já toda a gente sabe e comenta no corredor o (que resta da) história que tinha sido contada a uma só pessoa, em segredo.

Somos realmente umas bestas.

É muito mais fácil falar do outro pelas costas do que enfrentá-lo. E o melhor é quando encontramos parceiros de luta: "Eu também não gosto nada desse gajo"; e pronto, forma-se ali uma espécie de reunião de alcoólicos anónimos em que acabamos todos a partilhar a nossas dores relativas ao tal gajo. Não resolvemos nada, mas sentimo-nos muito melhor. Melhor do que se fôssemos falar com o tal gajo frente a frente. Ali estamos em monólogo e ganhamos sempre. Fácil.

Somos bestas. Mas somos as bestas perfeitas.

Nós não temos defeitos e, se por algum raro acaso tivermos, são insignificantes ao pé dos dos outros: "Se fosse eu..."
O que vale é que, se tivéssemos sido nós, tínhamos tomado a melhor decisão, feito a coisa certa e salvo o Mundo do apocalipse. Mas se tivéssemos realmente sido nós, tínhamos feito igual aos outros. Ou pior.

E somos bestas conscientes.

"Epa faz-me lá isso hoje, isso é só..."
Se é "só" é fácil, porque não fazemos nós? Ah... Pois. Não sabemos fazer. Mas o outro faz tão bem que só pode ser rápido e claro, devia ser grátis.


Sejam felizes, deixem-se merdas, resolvam os assuntos frente-a-frente e nunca (mas nunca) ponham valor no trabalho dos outros!

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