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O Facebook é ótimo para encontrar pessoas. É ainda melhor para as perder.

Encontra-se o primo do Alentejo que só vemos no Natal. Encontra-se aquele colega da primária de quem nem gostávamos  muito mas, entre likes e emojis, parece que éramos inseparáveis. Encontra-se a vizinha do lado, aquela porca, mas deixa cá pedir amizade porque ainda pode dar jeito para lhe mandar umas "à cara". Encontra-se aquele sócio do comboio que tem ar de beto de Cascais; virado do avesso não lhe deve cair nada dos bolsos, mas o gajo até é giro, deixa cá cuscar as fotos. Encontra-se o tio fixe, mas depois ele vai se férias e não dá cavaco a ninguém... Também não me vê mais os dentes, vou bloqueá-lo. A porca da vizinha bem me disse que ele era um falso. Talvez não seja tão porca assim.

Encontra-se tudo e mais um par de botas.

Os que não se encontram, são esquecidos. Não têm vida. Não mostram onde estão,  com quem estão e o que fazem. Ou o que querem que os outros pensem que fazem. Não podemos identificá-los nas fotos. De repente, a porca da vizinha deixa de ser porca (coitada, as pessoas são mesmo cruéis) e passa a melhor amiga (gémeas siamesas separadas à nascença só porque descobriram que, além do ódio pelo tio fixe, tem ambas um hamster em casa. "O teu também corre na rodinha?") E o desgraçado do tio, que mora a 120Km e era o melhor do mundo porque jogava connosco à bola nas férias do verão, agora pode morrer que nem damos pela falta. Não interessa. A porca da vizinha é mais minha amiga, ao menos não me esconde as férias. E tem um hamster!

É triste. Mas é verdade.

Eu faço parte dos esquecidos, sem vida, que não mostro onde estou, com quem estou ou o que faço e que não me podem identificar nas fotos.

Talvez um dia seja a tia morta sem ninguém dar conta. A tia, a prima, o raio que os parta.

As pessoas têm mesmo as prioridades trocadas. Não cuidem da família e dos amigos e continuem vítimas das redes sociais... Likes não substituem palavras,  comentários não substituem gestos. É só apanharem o desgraçado do primo nas fotos de uma festa para lhe cortarem na casaca. Mas se virem que na festa estava a porca da vizinha, até se lambem para dizer que também a conhecem.

Cresçam e apareçam. O pior é que já são todos adultos. Ou deviam. Ninguém é 'mais amigo' que ninguém só porque nos faz mais likes.


Sejam felizes, deixem-se de merdas típicas de velha cusca e... Sonhem! Quanto mais não seja, a dormir não fazem estragos. Porque o tio ainda gosta de vocês, não se esquece dos jogos à bola e, no fundo, fica triste por já não quererem saber dele. Talvez um dia seja ao contrário. No dia em que a porca da vizinha voltar a ser porca e lhe mandarem mesmo umas quantas "à cara".

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