Avançar para o conteúdo principal

Os (novos) mais velhos

Quando somos (mais) novos, ouvimos os (mais) velhos dizerem coisas que juramos a nós mesmos nunca ir repetir.

Dizem que quando eram da nossa idade isto ou aquilo.

E que quando chegarmos à idade deles vamos dar-lhes razão.

Dizem até para irmos andando que eles lá nos esperam.

Dizem tudo isto porque acreditam, dizem tudo isto porque podem e, sobretudo, dizem tudo isto porque é verdade.

Quando somos (mais) novos estas lamechices entram a 100 e saem a 200 e é por isso que só quando formos da idade dos (mais) velhos lhes vamos dar razão.

Temos sempre pena de não ter tomado atenção mais cedo e queremos tentar que os (mais) novos agarrem a oportunidade que deixámos ir.

E como queremos muito isso, vamos dar o dito por não dito e é agora a nossa vez de picar miolos na esperança de mudar o Mundo. Pelo menos, o mundo daqueles que estamos a ver crescer.

E lá vamos ser nós os chatos (mais) velhos que dizem aos (mais) novos o quanto cresceram, que ainda ontem nasceram e já são grandes. Que ainda ontem tínhamos a idade deles e que o tempo passa a correr, o melhor é aproveitarem. E eles, como nós, vão deixar entrar a 100 e sair a 200 esta conversa chata dos que já foram (mais) novos e que agora são os (novos) mais velhos.

Faz parte.

A vida é uma espécie de ciclo que, embora sendo única para cada um, tem etapas comuns a todos. Há um tempo e uma altura para tudo. E todos têm que apreder a crescer.

Custa ver que o tempo passa depressa de mais?

Custa pois.

Podemos fazer algo para mudar isso?

Não.

Então resta-nos aceitar o nosso ciclo independentemente do ponto em que se encontre, e dar graças à entidade divina que nos aprouver (se nelas acreditamos) pelo facto de ainda "cá estarmos".

Se prova fosse precisa de que caminho mais para velha que para nova, esta expressão acabou de me denunciar descaradamente. Ninguém (mais) novo diz que ainda cá está a não ser que queira mesmo dizer que está em determinado local. Mas o meu "cá", é tanto aqui neste local, como poderia ser noutro qualquer. É um "cá na terra", se acreditarem no céu, inferno e purgatório. É um "cá no mundo dos vivos", se existir semelhante mundo dos mortos. É cá, aqui, com os outros vivos que por aqui andam.

Resta-nos ainda esperar e tentar que as infelicidades da vida não nos levem a querer não estar cá, na terra, no mundo dos vivos, com os outros que por aqui se passeiam.

Porque a vida é difícil, dura.

É ainda demasiado complexa para ser descrita em meia dúzia de parágrafos. Por isso, resumindo, aos (mais) velhos peço desculpa por cada revirar de olhos ao ouvir as coisas que agora digo. Aos (mais) novos, estão perdoados. Farão o vosso caminho e um dia, provavelmente quando eu já cá não estiver, vão dar-me razão. (Ahhh, típico!)


Sejam felizes, sonhem e... Tenham paciência uns com os outros, basta isso.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

A felicidade que pode ser perdermos a clareza de ideias

Os velhos, às tantas, não dizem coisa com coisa. Misturam assuntos. Dizem que fizeram isto e aquilo sem terem feito nada. Não sabem onde estão ou o que estão lá a fazer. Dizem que falaram com A, B ou C, que já estão a fazer tijolo há muito tempo. Que foram aqui e ali sem na verdade terem saído do lugar. Julgam que os vão levar para casa em breve. Parecem estar noutro mundo ou na lua. Nem que seja apenas por breves instantes. Segundos de trevas que parecem interromper a luz. Ou será ao contrário? Talvez seja da velhice. Talvez seja dos medicamentos.  Talvez. Talvez seja sem querer mas, em certa medida, propositadamente. Que também eu perca a clareza e o discernimento quando eles já não me trouxerem benefício algum.

Desiludem-me, portugueses

Tinha-vos em melhor conta. Mas, afinal, vota-se em quem destila ódio. Toda a gente sabe que isso é sinal de se ser mais capaz. Quem grita mais tem mais razão. Claro. Como não sou eu capaz de ver isso?... Vota-se em quem faz a conversa de café. Quem manda os outros para a terra deles, como se nós nunca tivéssemos ido para a terra de ninguém. E como se não nos fizessem falta alguma. Vota-se em quem manda trabalhar os malandros, os chupistas da sociedade que não fazem nenhum e vivem à mama. E são tantos. Incluindo os que não interessam para a estatística. Vota-se em quem diz o que se quer ouvir, sem pensar nas consequências disso. Vota-se sem pensar se quem diz o que se quer ouvir, consegue realmente fazer o que é preciso. Mas o voto é livre, tal como a opinião. Por isso, cada um saberá de si - assim espero. Julgo, no entanto, que muitos professores de História estarão agora a levar as mãos à cabeça, pensando que, afinal, não conseguiram ensinar nada a ninguém. Nem mesmo aos que passaram ...

Quando for grande quero ter a acefalia de dizer que o meu sonho é ser influencer

Antes, no passado, no "meu tempo", queríamos ser médicos para salvar vidas, advogados de causas perdidas para trazer justiça a este mundo cruel, engenheiros de qualquer coisa para arranjarmos soluções para os problemas com que nos deparávamos. Cabeleireiras para pôr as pessoas bonitas, pedreiros para fazermos a nossa própria casa, na loucura, jogadores da bola - e era este último o desejo mais acéfalo possível naquela altura. E ainda nem havia nenhum Ronaldo, imagine-se. Agora, num mundo em que o que interessa é aparecer, quere-se ser - imaginem - influencer . Mas que merda é esta? Que raio de trabalho é esse mesmo?  Sim, até compreendo, deve dar um trabalho desgraçado pensar em conteúdos, fazer aquela maquilhagem que parece que não está lá para parecer que se acabou de acordar em bom, filmar a mesma coisa meia dúzia de vezes porque nunca nada está bem, tirar a mesma foto 20 vezes porque há sempre qualquer coisa que está mal. Ter, completamente por acaso, o telemóvel a filmar...