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Já vi nascer o Sol no trabalho

Como se a empresa em que se trabalha fosse um planeta. Até era. Isto de ver nascer o Sol na empresa é muitas vezes motivo de orgulho de muitas pessoas. Orgulho, gabarolice, sei lá. Ver lá nascer o Sol não significa que se tenha chegado muito cedo. Ver nascer o Sol é mais do que ver amanhecer. É testemunhar o momento em que aparece no horizonte vindo das trevas. É mais do que o ver subir no céu. Significa que se trabalhou de noite. E isto de se trabalhar de noite para quem não faz turnos e só devia trabalhar de dia é um estandarte a transportar. Vi nascer o Sol quando tive uma release  de código que tinha que ser feita durante a noite e que durou até de manhã. Trabalhei de noite porque era preciso. Trabalhei de noite no escritório porque era assim que se trabalhava antes de se perceber que de casa, afinal, também se trabalha. Até de noite, vejam lá. Perceber, aceitar, render-se à evidência ou à necessidade. Era isso ou parar. Trabalhei muitas outras vezes durante a noite por razões ...
Mensagens recentes

Temos tanta coisa

Temos uma casa, por isso damos por garantido ter um teto onde ficar. Ter uma cama onde dormir. Não ter frio nem ter medo. Temos roupa para vestir e sapatos para calçar. Temos coisas que já nem nos lembramos que temos. Temos família e amigos, mais ou menos, muito chegados ou mais afastados. Mas sabemos que, se precisarmos, eles, em princípio, estão lá para nós. Tal como nós para eles. Damos por garantido ter o que comer. Há qualquer coisa no frigorífico, no congelador ou na despensa. Há qualquer coisa, nunca é o que apetece, mas há. E se não houver vai-se comprar. O supermercado está caríssimo, mas ainda conseguimos comprar. Fazendo mais ou menos contas, abastecemos o carro. Abusamos dele para ir a todo o lado porque ele está ali à nossa disposição e escusamos de ir a pé. Principalmente hoje que dizem que pode chover. Damos por garantida a segurança, vivemos num país seguro por muito que ultimamente nos tentem vender o contrário. Não sabemos o que é não estar seguros, ter medo que nos a...

Era tudo bem mais divertido se fôssemos músicos

Gosto de assistir a um podcast semanal de música. Nasceu na pandemia (como tantos outros) e dura até hoje (como poucos). Podia ser hipócrita e dizer que sou fã desde o início mas, na verdade, só o descobri no final do ano passado. Mas não sou menos fã por isso. É descontraído, leve, bué engraçado. E tem boa música e bons músicos, o que é sempre bom. Dei por mim a pensar, esta manhã, enquanto assistia a um dos vídeos, o quão giro deve ser um encontro de músicos. De gente que sabe toda cantar ou tocar. Deve ser sempre uma festa. Basta dar a indicação de se o tom da música é em Fa ou em Mi (ou noutra nota qualquer) e, de repente, todos tocam e cantam em uníssono. Conseguem todos acompanhar uma conversa acerca de uma canção, como está escrita, como foi musicada. Do fulano que a escreveu, do que fez a melodia, de quem fez os arranjos e porque os terá feito daquela forma. Discutem se fariam igual, fazem uma nova versão da canção mudando um pouco a melodia. Ou fazem uma brincadeira, mudando ...

Xixi ao léu

Não, este texto não é sobre fazer xixi na rua. Mas podia ser. Este texto é sobre não ter problemas em andar por aí com o frasquinho das análises à urina à vista (depois de devidamente cheio, pois claro). Muita gente (eu incluída) tem pudor em mostrar o seu xixi ao mundo. Por isso, quando toca a fazer análises, o frasquinho vai devidamente enfiado num saquinho de plástico que não permite ver o interior (mas que toda a gente percebe o que lá está dentro). O saquinho de plástico também serve para evitar fugas indesejadas (já me aconteceu!) mas, principalmente, para não se ver o conteúdo. Há quem opte por só fazer o xixi no local. Já não bastaria o jejum e ainda vão à rasquinha para fazer xixi. Escusam de ir com o xixi atrás, dizem. Acho que estas pessoas são as mais púdicas no que a xixi diz respeito. Se bem que têm pelo menos que passar um corredor com o belo do frasco na mão, não sei se adianta muito. Hoje vi uma pessoa com falta de pudor suficiente para se passear na rua com o seu xixi...

A felicidade que pode ser perdermos a clareza de ideias

Os velhos, às tantas, não dizem coisa com coisa. Misturam assuntos. Dizem que fizeram isto e aquilo sem terem feito nada. Não sabem onde estão ou o que estão lá a fazer. Dizem que falaram com A, B ou C, que já estão a fazer tijolo há muito tempo. Que foram aqui e ali sem na verdade terem saído do lugar. Julgam que os vão levar para casa em breve. Parecem estar noutro mundo ou na lua. Nem que seja apenas por breves instantes. Segundos de trevas que parecem interromper a luz. Ou será ao contrário? Talvez seja da velhice. Talvez seja dos medicamentos.  Talvez. Talvez seja sem querer mas, em certa medida, propositadamente. Que também eu perca a clareza e o discernimento quando eles já não me trouxerem benefício algum.

Ninguém morreu por não comer Bolo Rei

É bem capaz de ter sido o primeiro Natal - pelo menos de que eu tenha memória - em que não se comeu Bolo Rei. Também deve ter sido dos poucos em que não sobrou Bolo Rei. Porque não se comprou Bolo Rei. Comprou-se só um Bolo Rainha; cá em casa é o que agrada à maioria e assim sobrou menos. Claro que sobrou tudo o resto. Sobra sempre. Sobrou bacalhau, sobraram coscorões e o presunto vai acabar por secar certamente. Sobrou tudo, para não faltar nada. O que sobrou foi partilhado, dividido, só falta agora tentar que não seja desperdiçado. Mas vai ser. Alguma coisa vai acabar por ir parar ao lixo ou às galinhas. Que seja algo que as galinhas comam, pelo menos não será desperdício total. Sejam felizes, sonhem e tentem desperdiçar um bocadinho menos na passagem de ano.

Ninguém morre se não comer uma fatia de bolo especial de corrida este ano

Bolo Rei ou Bolo Rainha? Um de cada, há quem não goste de frutas cristalizadas. Põe mais 2 ou 3 postas de bacalhau, vale mais a mais que a menos. Sobrar que faltar. A lareira está acesa há tantas horas que não se pode estar aqui com o calor... Vai sobrar tronco de Natal de certeza. E coscorões, 1Kg se calhar foi demais, mas 1/2Kg também era pouco. O presunto vai secar todo, quase ninguém comeu. Nós, aqui, preocupados com problemas de 1o Mundo, nem nos lembramos que em pleno século XXI ainda há quem passe fome e frio. No Natal parece tudo mais evidente, de repente toda a gente tem pena dos pobrezinhos, dos sem abrigo, das criancinhas que passam fome, dos velhinhos que passam frio. Mas os pobrezinhos, os sem abrigo, as criancinhas, os velhinhos e todas as outras pessoas que passam por privações e dificuldades também existem no resto do ano... E nós, aqui, preocupados em comprar dois bolos, dos quais metade vai sobrar, porque alguém pode não gostar de frutas cristalizadas.  Nós, a abu...