Como se a empresa em que se trabalha fosse um planeta. Até era. Isto de ver nascer o Sol na empresa é muitas vezes motivo de orgulho de muitas pessoas. Orgulho, gabarolice, sei lá. Ver lá nascer o Sol não significa que se tenha chegado muito cedo. Ver nascer o Sol é mais do que ver amanhecer. É testemunhar o momento em que aparece no horizonte vindo das trevas. É mais do que o ver subir no céu. Significa que se trabalhou de noite. E isto de se trabalhar de noite para quem não faz turnos e só devia trabalhar de dia é um estandarte a transportar. Vi nascer o Sol quando tive uma release de código que tinha que ser feita durante a noite e que durou até de manhã. Trabalhei de noite porque era preciso. Trabalhei de noite no escritório porque era assim que se trabalhava antes de se perceber que de casa, afinal, também se trabalha. Até de noite, vejam lá. Perceber, aceitar, render-se à evidência ou à necessidade. Era isso ou parar. Trabalhei muitas outras vezes durante a noite por razões ...
Temos uma casa, por isso damos por garantido ter um teto onde ficar. Ter uma cama onde dormir. Não ter frio nem ter medo. Temos roupa para vestir e sapatos para calçar. Temos coisas que já nem nos lembramos que temos. Temos família e amigos, mais ou menos, muito chegados ou mais afastados. Mas sabemos que, se precisarmos, eles, em princípio, estão lá para nós. Tal como nós para eles. Damos por garantido ter o que comer. Há qualquer coisa no frigorífico, no congelador ou na despensa. Há qualquer coisa, nunca é o que apetece, mas há. E se não houver vai-se comprar. O supermercado está caríssimo, mas ainda conseguimos comprar. Fazendo mais ou menos contas, abastecemos o carro. Abusamos dele para ir a todo o lado porque ele está ali à nossa disposição e escusamos de ir a pé. Principalmente hoje que dizem que pode chover. Damos por garantida a segurança, vivemos num país seguro por muito que ultimamente nos tentem vender o contrário. Não sabemos o que é não estar seguros, ter medo que nos a...