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Quando for grande quero ter a acefalia de dizer que o meu sonho é ser influencer

Antes, no passado, no "meu tempo", queríamos ser médicos para salvar vidas, advogados de causas perdidas para trazer justiça a este mundo cruel, engenheiros de qualquer coisa para arranjarmos soluções para os problemas com que nos deparávamos. Cabeleireiras para pôr as pessoas bonitas, pedreiros para fazermos a nossa própria casa, na loucura, jogadores da bola - e era este último o desejo mais acéfalo possível naquela altura. E ainda nem havia nenhum Ronaldo, imagine-se. Agora, num mundo em que o que interessa é aparecer, quere-se ser - imaginem - influencer . Mas que merda é esta? Que raio de trabalho é esse mesmo?  Sim, até compreendo, deve dar um trabalho desgraçado pensar em conteúdos, fazer aquela maquilhagem que parece que não está lá para parecer que se acabou de acordar em bom, filmar a mesma coisa meia dúzia de vezes porque nunca nada está bem, tirar a mesma foto 20 vezes porque há sempre qualquer coisa que está mal. Ter, completamente por acaso, o telemóvel a filmar
Mensagens recentes

A foto do obituário

Tenho horror a redes sociais que para nada mais servem do que para lavar roupa suja, mostrar o que não se tem e ser-se o que não se é.  Talvez por isso não seja daquelas pessoas que tem 300 mil fotos suas no telemóvel (sim, pouca gente hoje em dia "tem" fotos noutro sítio). Às vezes dou por mim a pensar que há um vazio de uns 15 anos na minha vida, porque não tenho fotos "nenhumas" dos últimos anos, "acabaram-se" os típicos álbuns e, não tendo redes sociais, pareço não ter motivo para as tirar. Assim, há um gap na minha existência, como se não tivesse existido de todo, um corte na linha da vida, aquela que é desenhada por e recordada com fotos. Pior que esse vazio é o que dele pode vir. Admiro-me de ver nos obituários pessoas de 70 anos com fotos de 50, pessoas de 80 com fotos de 60 e pior. Admiro-me mas, olhando para mim mesma, não é assim uma coisa tão estranha de acontecer. As pessoas envelhecem e já não gostam de se ver, não querem fotos e ninguém lha

O seu filho sofre de asma? Tem que ler isto.

O seu filho sofre de asma? Então não o leve ao médico. Nada do que o médico possa dizer é mais certo que o que vai ler aqui, num qualquer post completamente aleatório, no Facebook . Foi escrito por uma "médica", super "especialista" em filhos com asma. Leia, não se vai arrepender. Ah! E depois não se esqueça de fazer a mezinha que a doutora manda, porque ela até conhece bem o seu filho com asma. Faça isso e ignore o que o médico da criança diz. Aliás, não volte lá mais. Dar dinheiro a malucos, Deus me livre! Esta doutora especialista em asma no Facebook ao menos é à borla. Se o seu filho sofre de asma tem mesmo que ler isto e se não sofre, também. Nunca se sabe se não está aqui a cura para mais alguma coisa porque esta doutora é especialista e toda a gente sabe que isso quer dizer que sabe muito, neste caso, de filhos com asma. Mas deve saber de filhos em geral e talvez esteja aqui a cura para a estupidez dos pais também, nunca se sabe, especialista é especialista

38 anos que sabem demasiado a velho

É como aquela bolacha que ficou num pacote meio aberto, amoleceu e sabe a... velho. Não sabe bem mas também não sabe mal, apenas já não sabe a novo. Sejam lá o novo e o velho o que forem. São o bom e mau? Sei lá.  São tempos estranhos estes, em que a tua marca de café te felicita por mais um aniversário, outras há que até oferecem descontos, mas a prima se esquece ti porque tem a cabeça demasiado ocupada a ser ela (ou a não ser nós) e não deve ter um sítio onde apontar a data. Coitada. Coitada dessa prima e das outras primas todas, sim coitadas. Eu dispenso esses teatrinhos da vida, que não passam do intervalo porque alguém se esquece de continuar a representar. Não preciso de lágrimas de crocodilo, de floreados, nem de merdas. Por isso, a essa prima e às outras primas todas que por aí se passeiam: escusam de vir tentar oferecer bilhetes para a próxima peça. Façam a palhaçada sozinhas, comigo não contam mais. São quase 40 anos, tenham dó! Não gosto de pensar em 40-2, aos 40 a bolacha j

Se "O" 25 de Abril fosse agora... não era.

Onde é que estavas no 25 de Abril? Pergunta da praxe. A resposta mais ouvida é "a saltar do direito para o esquerdo". Mas muitos, nem isso. A verdade é que alguns estiveram lá, fizeram a revolução, outros não estiveram mas viveram esses tempos e, a partir daquele dia, todos podemos colher os seus frutos. Incluindo nós, que ainda andávamos a saltar do direito para o esquerdo e até todos os outros que nem isso faziam ainda.   Foi uma conquista e pêras. Esta coisa da liberdade, que damos como garantida e à qual não damos importância nenhuma, é o que me permite escrever este texto sem ir presa. É a mesma coisa que permite discussões políticas de café, na maioria das vezes com um cheirinho a insensatez. É ainda o que nos deixa andar despreocupados, sem olhar por cima do ombro a todo o instante. Mas também é algo que nos dá muita responsabilidade. Liberdade não é libertinagem. A liberdade dá trabalho e exige respeito, mesmo que quase ninguém se dê conta disso. Hoje, teria sido muit

Identificar ricos (ou como dar a volta ao texto em 17 parágrafos)

Consigo identificar um rico à distância. Que é como quem diz, sem ter que lhe ver o extrato bancário. É um dom como outro qualquer. E como a minha cabeça precisa de fazer associações, crio uma espécie de estereótipos. E quem nunca usou um estereótipo que atire a primeira pedra. Os ricos têm todos a mesma cara, são parecidos uns com os outros, parece que nasceram todos da mesma mãe. Olha-se para um rico e sabe-se que é rico. Como também se olha para um pé rapado com a mania das grandezas e se sabe que é só um pé rapado com a mania das grandezas, não é um rico. Os ricos têm todos o mesmo tipo de cabelo, de corte e o mesmo tipo de penteado. Os ricos devem ter uma tabela de pesos aceitaveis e só podem engordar a partir de certa idade. Por isso, em geral, são magros. Usam as mesmas marcas de roupa. Viajam para os mesmo sítios, nas mesmaa alturas do ano. As melhores. Têm o mesmo sotaque, a mesma musiquinha na voz, devem ter nascido todos em Lisboa. Sempre ouvi dizer que orelhas grandes são o

Perdemos

Não falo de partidos ou posições políticas, falo dos portugueses. Perdemos. Com "sorte", daqui a 6 meses o carrossel dá mais uma voltinha. Obrigada, Marcelo.